sábado, 3 de março de 2007

TORRE DE BABEL (OU ESCRAVA DA PALAVRA N° 2)

Nas fotos estamos sempre em risos duros, permanentes. No entanto, já se mostra difícil mantê-los assim, rígidos em meio ao meu sentimento único de não pertencer. Estrangeira de mim mesma, tento delinear outras formas para este rosto -o meu, que vos fita neste milésimo de segundo que já não é, agora foi – pois sobre minha voz, meu punho, meu sangue, já não gozo de nenhum poder. O que antes era motivo de orgulho – razão pela qual era até compreensível que fosse doído – hoje é meu cárcere. Mas não se atreva a me libertar pois serei como canário em gaiola, de nada adiantará fazer-me falar tua língua, sofro de impossibilidade letal quando se trata do aprendizado de outros idiomas. Rejeitadas instantaneamente pela minha já apodrecida massa cinzenta, as novas palavras, impedidas de atingir seu destino- meu preconceituoso léxico- vão formando uma imensa e fétida bile que meu corpo não hesita em regurgitar.

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