sábado, 9 de junho de 2007

A INVASÃO

Disse bem o poeta: “Que seja infinito enquanto dure”. Não dura para sempre. Há que fazer mil e umas outras tantas mil para manter um amor vivo. Cuidado, ele morre facilmente de inanição. É preciso construir já – você que começa a amar – uma máquina do tempo. Caso não voltemos incessantemente no tempo ele se apavora, foge e acaba morrendo atropelado pelos carros que pasmem, somos nós ao volante. Cuida para não ficar abobalhado diante de algo tão mágico, que tem a carcaça de eterno. Mas é só por fora, por dentro é frágil como porcelana fina, como cristal dos mais autênticos, nem é preciso cair para se quebrar, cai em pé mesmo, feito gato, quando menos se espera. O discurso nesta hora é sempre o mesmo: “como eu podia saber?” Mas você sabia desde o início, sua mãe e seu pai lhe avisaram, os filmes, as músicas dor-de-cotovelo, todas as pistas lhe foram dadas – free, de graça, sem custo algum – conselhos lhe chegaram de todas as partes do mundo, em todos os idiomas para que não se corresse o risco de não ser entendido, mas...mesmo assim você não escutou. Quando ele caiu doente pela primeira vez você achou que era só um resfriadinho, deixou que ele passasse frio, fome, dor, melancolia, raiva, e quando o troço tava virando pneumonia, o que você fez? Nada. Pois é, você não fez nada, e quando a gente não faz nada vem uma senhora gorda bater na porta dele e quando ele abre, já era, ela entra sem pedir licença e ocupa todos os espaços que você deixou vazios. E quando ela entrou e não sobrou nenhum espacinho, ele tenta sobreviver, faz de tudo, chama a emergência, pula, grita –mesmo com a voz já fraquinha- pede socorro, mas você teima em pecar novamente por omissão de socorro e acha que é tudo frescura, chilique, piripaque, coisa normal depois de alguns anos de idade. Neste momento você teria como recurso a máquina do tempo – tão útil nesses casos – se a sua estivesse funcionando, mas o combustível está em falta e você nem acha necessário, tão embebido que está nessa verdade que inventou, que tanta gente já inventou também e partiu pra outra achando que não ia acontecer de novo- não! Agora eu sei!- mas acontece, porque seu pai e sua mãe lhe avisaram mas não mostraram como é que é, eles também o deixaram ficar doente, moribundo, morto, só que esconderam o corpo para que ninguém soubesse, nem você, e até hoje você pensa que ele ainda está lá -e está, só que morto e enterrado- bonitinho dormindo de conchinha entre os dois, só que é tudo mentira e ninguém lhe contou, é segredo e ninguém espalhou. Certamente você agora pensou em escrever um livro contando como é que faz pra senhora gorda não chegar, não bater e não entrar, um manual, tudo explicadinho, os passos em detalhes pra não ter errada, mas você só viu agora e ela já entrou, já se instalou, já casou e mudou de mala e cuia pra casa do teu amor e, sei não, o caso é de difícil recuperação. De repente você danou de lembrar daquela cerimônia de casamento em que os noivos precisavam ficar olhando um pro outro – assim, olho no olho- por horas a fio para poderem considerar-se casados. Só agora você se tocou que o passo era só um e simples, fácil de fazer, sem precisar de cálculos ou mapas ou receitas ou códigos, era só OLHAR pra ele que a Solidão não mudava pra sua casa nem ocupava o lugar que foi seu.

3 comentários:

Anônimo disse...

Nem precisei o terminar. Mas o terminei, respeito a palavra. Tu a escreve e por isso respiro. Eu o li, não o devorei como se prova do gosto-toque que as tuas palavras têm. Este texto foi cópia viva do amor humano que vivi. Entrei nesse amor e falhei, mas aprendi muito mais que um aluno triste e solitário na escola da infância. Que apenas estuda porque não existe, e se existir será escravo de cada pensamento que dele fizer. Este aluno sou eu, eu na minha infência, eu no meu agora. Fraco, triste, mas com luz em algum lugar por trás de um sentimento escuro que apaguei, pois o peso da luz acabou me doendo. A luz dói, eu não sabia, um pouco de sombra também é necessário. Eu era um caos no calor de um sol que brilhou tanto de me deixar marcas. Que presença humana linda e estrondosa que amei!
Mas tive de deixar, meu corpo era só ombros esperando no ponto de ônibus a chegada do que hoje é minha despedida..." Por mim e por vós" ... Dizia Cecília, mas que não tenham pena de mim. Tive coragem de largar as pedras no meio
do chão e me atirar na rua que levou de volta para casa.
Obrigado por tudo, serva da palavra! Abençoa-me os dias... Talvez minha vida ainda não tenha sido abençoada!

Anônimo disse...

Nem precisei o terminar. Mas o terminei, respeito a palavra. Tu a escreve e por isso respiro. Eu o li, não o devorei como se prova do gosto-toque que as tuas palavras têm. Este texto foi cópia viva do amor humano que vivi. Entrei nesse amor e falhei, mas aprendi muito mais que um aluno triste e solitário na escola da infância. Que apenas estuda porque não existe, e se existir será escravo de cada pensamento que dele fizer. Este aluno sou eu, eu na minha infência, eu no meu agora. Fraco, triste, mas com luz em algum lugar por trás de um sentimento escuro que apaguei, pois o peso da luz acabou me doendo. A luz dói, eu não sabia, um pouco de sombra também é necessário. Eu era um caos no calor de um sol que brilhou tanto de me deixar marcas. Que presença humana linda e estrondosa que amei!
Mas tive de deixar, meu corpo era só ombros esperando no ponto de ônibus a chegada do que hoje é minha despedida..." Por mim e por vós" ... Dizia Cecília, mas que não tenham pena de mim. Tive coragem de largar as pedras no meio
do chão e me atirar na rua que levou de volta para casa.
Obrigado por tudo, serva da palavra! Abençoa-me os dias... Talvez minha vida ainda não tenha sido abençoada!

Anônimo disse...

Nem precisei o terminar. Mas o terminei, respeito a palavra. Tu a escreve e por isso respiro. Eu o li, não o devorei como se prova do gosto-toque que as tuas palavras têm. Este texto foi cópia viva do amor humano que vivi. Entrei nesse amor e falhei, mas aprendi muito mais que um aluno triste e solitário na escola da infância. Que apenas estuda porque não existe, e se existir será escravo de cada pensamento que dele fizer. Este aluno sou eu, eu na minha infância, eu no meu agora. Fraco, triste, mas com luz em algum lugar por trás de um sentimento escuro que apaguei, pois o peso da luz acabou me doendo. A luz dói, eu não sabia, um pouco de sombra também é necessário. Eu era um caos no calor de um sol que brilhou tanto de me deixar marcas. Que presença humana linda e estrondosa que amei!
Mas tive de deixar, meu corpo era só ombros esperando no ponto de ônibus a chegada do que hoje é minha despedida..." Por mim e por vós" ... Dizia Cecília, mas que não tenham pena de mim. Tive coragem de largar as pedras no meio
do chão e me atirar na rua que levou de volta para casa.
Obrigado por tudo, serva da palavra! Abençoa-me os dias... Talvez minha vida ainda não tenha sido abençoada!