domingo, 1 de novembro de 2009

PELE NOVA (DESCASCAR-SE)

Toda mudança é clara e bem vinda se não quiser tomar de mim algo que fui e que não dá mais pra ser, algo que me foge como quem de longe vê o caminho mas não consegue chegar lá. Eu chego. Devagar, de tanto vagar eu enxergo as brumas altas que estão na cara de todos os mortais, mas é preciso cegar-se por dentro para se enxergar, tudo é tão claro como a cegueira branca branda do Saramago, que me toma a alma e nem pede assim: deixa eu ficar, deixa, que estou longe e larga de casa. É uma pele nova que se solta de mim nem preciso descascar-me, é tão fácil, vem de leve logrando-se enlameada de mim, como de noite achegar-se num ombro que não veio, mas eu vejo, porque me cega a alma esta clareza de tudo, este desejo profético de ver o belo onde ele se encalacra, e se perde, se entoca como rato em toca de bandido, encarcerado como loucos em seus retumbantes manicômios.

2 comentários:

Arlene disse...

Pronto! Você é uma escritora! Fiquei meio receosoa em afirmar isso. Nesse nosso mundo de pequenas vaidades, qualquer afirmação nesse sentido pode gerar grandes equívocos. Mas quando reconheço que estou diante de uma escritora, a verdade tem que ser dita. E fico surpresa por já te conhecer e não saber essa verdade.

Fabiana Esteves disse...

Obrigada, Arlene, vindo de você, que sei ser uma grande leitora e admiradora da boa literatura, é um elogio e tanto... Acho que ser escritor também passa pela necessidade de escrever, a palavra como o ar que se respira, vital.