sábado, 3 de março de 2007

COMO DE COSTUME

Levantei-me no mesmo vagar dos dias em que acordo sozinha, quando já foste trabalhar, mas para meu espanto estavas na sala, parecendo fitar-me. Eis que tu passas por mim, entras no banheiro, escovas os dentes, olhas cada um para ver se estão mais brancos, pois é preciso impressionar o chefe e os clientes. Tento lembrar se estamos brigados ou não, o que é extremamente difícil a esta hora da manhã. Nada me vem à memória. Em vão balbucio algumas palavras para confirmar se tu me ouves. Nada. Se tivemos brigas deve ter sido algo sério, penso comigo. Arrumas tua bolsa como de costume, bufando, e eu me perguntando por que não me lembro, começo a irritar-me, também como de costume. De nada adiantou bradar e quando bateste a porta dizendo como estavas atrasado – como de costume- um gesto ficou faltando, e voltaste sem pudor à beira da nossa cama para me dar o beijo de antes de ir para o trabalho, mas, pasmem, eu não estava lá, quer dizer, eu estava, sendo que tu não conseguias me ver, então, sem ar, saíste novamente, porta afora. À soleira, esperei teu gesto como de costume, mas de novo passaste por mim como se não me enxergasse. Busquei os chinelos para ir ao teu encontro, calçando-os num automatismo louco, sem olhar sequer para o chão, abrindo a porta. Não te vi, vi apenas o vizinho vindo em minha direção com um risinho safado que me cobriu de rubor interno e externo. Não pude olhar para o meu próprio corpo mas ao apalpá-lo pude constatar o temível: estava completamente nua. Voltei correndo de marcha a ré e tranquei a porta, o homem porém a esmurrava sem dó, rindo de um jeito que é melhor que nem seja descrito. Bufando e resmungando – como de costume- subiste as escadas em velocidade. Soltei um suspiro de alívio, o vizinho afastara-se encabulado dizendo que errara de porta. Fizeste cara de quem não entendeu e passaste a chave na fechadura, vi tudo pelo olho mágico, abriste a porta tão abruptamente que despenquei no chão. Tonta, mal pude ver o que pegaste em cima da mesa, saíste tão rápido quanto entraste. Só mais uma briga, pensei, deve ter sido grave, ele deve estar chateado, só gostaria de saber o porquê de eu não conseguir me lembrar. Resolvi continuar a vida, isto deve passar, vou tomar um banho, antes lavar os olhos, colocar a lente...mas o espelho, que costuma refletir imagens, que devia refletir imagens, não refletiu a minha.

Um comentário:

andre luis disse...

Fabi

Finalmente consegui, parabéeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeens!!!!!