Hoje é vinte e três, véspera da véspera de Natal. E como dizem as boas
línguas, o melhor da festa é esperar por ela. Eu sempre passei por este
dia rememorando outro 23 de dezembro, quando meus avós maternos ainda eram
vivos. Com os paternos convivi pouco, eles morreram cedo. Fiquei só com as
histórias, que meu pai conta até hoje. Neste dia 23 a casa estava cheia, embora
a grana fosse curta. O quintal era uma festa de primos, todos correndo em volta
do canteiro. O cardápio ficou a cargo da minha mãe. Era sardinha frita. (Ela
dizia sempre que comeu muita sardinha quando grávida de mim, por isso nasci tão
inteligente). As frituras eram raras na casa da minha vó Maria. Naquele dia não
aconteceu nada assim tão extraordinário, nada de tão especial. Ouvíamos música,
brincávamos... As mulheres se acotovelavam na cozinha... nada que merecesse uma
manchete de jornal. O fato sobrenatural estava, definitivamente, dentro de nós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário