sábado, 7 de setembro de 2013

SEXO VERBAL


Ele não saía há tempos de perto dela. Há muito não sabia o que significava sair com amigos, almoçar em família ou coisas do gênero. Namoro assim não vai para frente, dizia a mãe. Grude demais, dizia a irmã, mas qualquer tempo era suficiente para sentir a pele dela na dele, todo tempo era pouco para experimentar aquele corpo que o seduzia nu, quase todos os dias. Ali, apertadinhos no quarto dele, não havia mais nada a precisar. Foi assim que ele decidiu de repente que iria passar uns tempos na casa de uns amigos. Deste jeito. Queria testar o amor dela? Quem sabe. Outras experiências? Talvez. Começou sua peregrinação na tela do facebook. Mandou mensagem dizendo que a relação estava desgastada. Meio que de brincadeira, mas decidiu excluir os códigos típicos deste tipo de escrita. Precisava manter espaço para as ambiguidades. E se ela acreditasse mesmo? Haveria tempo de retomar o perdido? Ele arriscou. Aproveitou para conversar com outras meninas por webcam enquanto fingia que ignorava o choro dela. Mas e daí? Como sentir a lágrima que não viu cair? Como comover-se com um tremor de voz que não ouviu? Aproveitou a falta de linguagem não-verbal para ver até onde iriam. Não muito longe. Ela apontou desespero escrito, ele ignorou. Mais tarde a necessidade de ouvir a voz, de confirmar o tal desgaste se anunciou. Ela ligou, ele disfarçou, mas dali a pouco o que parecia fácil quando era letra sem voz, ganhou corpo de som. Passaram a tarde se amando via celular. Sexo verbal não faz meu estilo, ele disse. Ela concordou.



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