A brincadeira virou objeto de
estudo no trabalho e constatei, não sei se triste ou feliz, que fui uma
criança-espectadora. Os colegas relatam contentes suas infâncias de pés descalços,
subidas em árvores, elásticos e queimada nas calçadas até que os chamassem para
se lavar e jantar. Eu não precisava que ninguém gritasse meu nome ou me botasse
para dentro. Eu já estava lá. Lendo, imaginando, enfileirando as bonecas e
dramatizando o meu estar-lá-fora. Eu não me aventurava. Era uma criança de “assistimentos”.
Uma criança que imaginava, uma pré-adolescente que lia _às vezes mais de um
romance por dia - e, na juventude, fazia-me de cupido para as amigas. Sempre
espectadora, escrava do medo que me
aprisionava às letras. Lendo, eu poderia ser quem quer que fosse. Escrevendo
também. Comprei a minha liberdade com o bilhete que me dava cadeira para
assistir minha própria vida. Encenei. Hoje, quando falo em público, mal
acredito que quem esteja lá seja mesmo eu. Subo no palco. Mas na plateia, ainda vejo,
na última fila, a imagem de mim mesma. Sentada, assistindo, espectadora do meu
próprio milagre.
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