
Ele não
saía há tempos de perto
dela. Há muito não
sabia o que significava sair
com amigos,
almoçar em família ou coisas do gênero.
Namoro assim
não vai para frente,
dizia a mãe. Grude
demais, dizia a irmã, mas qualquer tempo era suficiente para
sentir a pele
dela na dele, todo tempo
era pouco
para experimentar
aquele corpo
que o seduzia nu,
quase todos
os dias. Ali,
apertadinhos no quarto dele, não havia mais nada a precisar. Foi assim que ele decidiu de repente
que iria passar
uns tempos na casa
de uns amigos. Deste jeito. Queria testar o amor dela? Quem
sabe. Outras experiências? Talvez. Começou sua
peregrinação na tela
do facebook. Mandou mensagem dizendo que a relação
estava desgastada. Meio que de brincadeira,
mas decidiu excluir
os códigos típicos
deste tipo de escrita.
Precisava manter espaço
para as ambiguidades. E se ela acreditasse mesmo?
Haveria tempo de retomar
o perdido? Ele arriscou. Aproveitou para conversar com outras meninas por
webcam enquanto fingia que ignorava o choro
dela. Mas e daí? Como
sentir a lágrima
que não
viu cair? Como
comover-se com um
tremor de voz
que não
ouviu? Aproveitou a falta de linguagem não-verbal para
ver até onde iriam. Não
muito longe.
Ela apontou desespero
escrito, ele
ignorou. Mais tarde
a necessidade de ouvir
a voz, de confirmar
o tal desgaste
se anunciou. Ela ligou, ele disfarçou, mas
dali a pouco o que
parecia fácil quando
era só
letra sem
voz, ganhou corpo
de som. Passaram a tarde
se amando via celular.
Sexo verbal
não faz meu
estilo, ele
disse. Ela concordou.