segunda-feira, 1 de julho de 2013

CORDA



Escolhi andar na corda. Até que me equilibrava bem, a falta daquela palavra sempre me sustentou. Viradas de calcanhar e titubeios faziam parte. Nunca reclamei. Mas agora a tal palavra que sempre faltou saiu do silêncio onde sempre morou e o foi além do falsear. Não acreditei. Achei que não havia ouvido direito e pisei fundo, firme. Foi então que eu caí. E neste espaço entre a corda e o chão, quando o vento me corre a pele de leve às vezes, às vezes impetuoso, aproveito para pensar se ainda quero corda, se não prefiro ponte de madeira, passarela de concreto... do outro lado talvez as portas estivessem todas abertas, quem sabe? O fato é que ainda não cheguei ao chão. Há tempo para que decidas se colocas ou não a rede embaixo. No meio do caminho me aparecem balões de gás hélio, cipós, teias de aranha, galhos, escadas de emergência; mas a rede, a rede que me salvará tu podes colocar no lugar. O ar me entra boca adentro. Vejo-te assistindo a cena de um andaime, do outro lado. Teu olhar tranqüilo me anuncia que preparaste a minha cama. Encheste a bolha de sabão que me en-caminhará de volta à corda. Velocidade mais alta, olhos ardem e... agarro a teia.

Um comentário:

Anônimo disse...

Às vezes a realidade não é muito prazerosa e precisamos fugir um pouco da realidade. Mas ao encontrarmos alguém , que é o nosso porto seguro , voltamos e a vida continua.
Leila