Escolhi andar na corda .
Até que
me equilibrava bem ,
a falta daquela palavra
sempre me
sustentou. Viradas de calcanhar e titubeios
faziam parte . Nunca
reclamei. Mas agora
a tal palavra
que sempre
faltou saiu do silêncio onde sempre
morou e o pé foi além
do falsear . Não
acreditei. Achei que não havia ouvido
direito e pisei fundo ,
firme . Foi então
que eu
caí. E neste espaço entre
a corda e o chão ,
quando o vento
me corre a pele
de leve às vezes ,
às vezes impetuoso ,
aproveito para pensar
se ainda quero corda ,
se não prefiro ponte
de madeira , passarela
de concreto ... Lá
do outro lado
talvez as portas
estivessem todas abertas , quem sabe? O fato
é que ainda
não cheguei ao chão .
Há tempo para
que decidas se colocas ou não a rede lá embaixo . No meio
do caminho me
aparecem balões de gás
hélio , cipós ,
teias de aranha ,
galhos , escadas
de emergência ; mas
a rede , a rede
que me
salvará só tu
podes colocar no lugar .
O ar me
entra boca adentro .
Vejo-te assistindo a cena de um andaime , do outro lado . Teu olhar tranqüilo me anuncia que já preparaste a minha
cama . Encheste a bolha
de sabão que
me en-caminhará de volta
à corda . Velocidade
mais alta ,
olhos ardem e... agarro a teia .
Um comentário:
Às vezes a realidade não é muito prazerosa e precisamos fugir um pouco da realidade. Mas ao encontrarmos alguém , que é o nosso porto seguro , voltamos e a vida continua.
Leila
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