terça-feira, 2 de agosto de 2011

Vinte anos depois


Desde aquele dia nunca mais nos vimos. Foi estranho ele aparecer assim, no meio do nada. Vinte anos depois ele não ganhou barriga, não agrisalhou os cabelos nem mudou a maneira de vestir. O jeitinho de surfista mostrava a total impossibilidade de procurar alguém como eu, mas o acontecido de duas décadas atrás também parecia improvável. Conversamos sobre o tal professor de teatro sádico que me pôs na parede naquela ocasião. Engraçado você ter me defendido, falei. Ele não achou engraçado, e sim necessário. Eu sempre fiquei na minha tribo, e você parecia um candidato a atorzinho da Globo. Mas não estávamos no Tablado, ele disse. Eu concordei. Talvez não tivéssemos que assistir a três horas daquela bendita entrevista egocêntrica. Ele riu. Ele ria muito bonito, assim como há vinte anos. Eu estranhei as minhas rugas, barriga e cabelos soltos, a súbita e recente vaidade, a coragem... e percebi que ele estava ali de passagem. No entanto, eu não era apenas mais uma pra ele, eu existia realmente. ELE era mais um pra mim. E se desfez, assim, na minha frente. Em poucos instantes era apenas um monte de branco amontoado na mureta onde antes sentava. Soprei.

2 comentários:

Luiz Fabiano de Freitas Tavares disse...

Não há nada que o tempo não reduza às devidas proporções...

Fabiana Esteves disse...

Pois é, mas como diz Manoel de Barros, "só dez por cento é mentira, o resto é invenção". Obrigada pela visita e pelos comnetários.