Não foi a primeira vez que você me pediu a lua. Da primeira vez eu achei inebriantemente fascinante este teu desejo incontestável, teu amor platônico por uma falsa estrela. Explica o teu incômodo com a luz do sol? Talvez. A figura mítica da falsa estrela que não tem luz própria me invadiu e eu só pude dizer: “Não dá, filha, tá muito longe...muito longe...” e continuei subindo as escadas te conduzindo pela mão. No entanto, pouco posso te guiar nas agruras do sonho. A lua nos seguiu –de novo- no caminho até em casa, repetindo o trajeto da primeira ocasião, só que muito mais cheia, mais reluzente, ficou mais tempo enredada à janela do carro e desta vez você chorou, filha, um choro doído, de coração machucado mesmo quando ela se escondeu atrás de um prédio alto. “Somiu...” Eu quis ficar triste, mas não pude, o desejo do impossível sempre foi o meu fraco. Quis pegar teclado, caneta ou lápis preto para desandar esta massa onírica de palavra e tatuar seu primeiro pedido epifânico: “Mamãe, eu quero a lua! É minha!” Não senti ter de dizer que está muito longe porque -como eu já disse- os amores platônicos, as veredas espinhosas, os desertos intermináveis, o desejo do impossível sempre foi o meu fraco. E agora, filha, estamos mais perto do que nunca...
Um comentário:
Olha só! Tão pequenina, já poetisa...
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