Sou do tempo em que a gente podia ficar no cinema para assistir o início do filme que se perdeu porque chegou atrasado. Nesse meio tempo , havia o esplendor do intervalo e podíamos aproveitar o momento dos créditos para namorar , comprar mais pipoca , ou apenas para prolongar aquela sensação boa(ou não ) que o filme deixou na gente . A música ajuda a manter o clima e dá um tempo pra que se pense sobre o que vimos na tela . Como boa filha de cinéfilo (chegamos a ver ET, o extraterrestre seis vezes na tela grande ) sempre amei este momento . A TV aberta considera perda de tempo , mas o DVD e a TV paga me mostraram que eu ainda podia ficar mais tempo abraçadinha ao final de um romance , manter o sorriso nas comédias , esticar as lágrimas nas histórias dramáticas ou reforçar as perguntas nos filmes alternativos . Meu marido , no entanto , nunca entendeu, desligava rapidamente o aparelho ao primeiro sinal de fim . Em nossas primeiras sessões juntos (quando ainda nos era permitido ficar ) ele levantava correndo, escravo da pressa que nos levaria ao outro lado da rua . Hoje em dia , as crianças mostram a ele como este momento pode ser desfrutado. Elas aproveitam para dançar balé . Na tela não há quase nada para se ver , só as letras miúdas subindo no negrume, mas a música ...a música tem o poder de nos fazer reviver a trama ... Proponho um movimento a favor do depois , tanto no amor quanto no cinema . Os capitalistas nos tiraram o direito de amar os créditos . Findo o filme , um exército de funcionários uniformizados e adestrados nos expulsa do recinto . Depois de fazer amor é bom ficar abraçado, conversar , olhar no olho , dizer eu te amo e, talvez , começar de novo ... Ou há quem prefira sair correndo com as calças na mão ?
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