segunda-feira, 7 de março de 2011

Amar os créditos

Sou do tempo em que a gente podia ficar no cinema para assistir o início do filme que se perdeu porque chegou atrasado. Nesse meio tempo, havia o esplendor do intervalo e podíamos aproveitar o momento dos créditos para namorar, comprar mais pipoca, ou apenas para prolongar aquela sensação boa(ou não) que o filme deixou na gente. A música ajuda a manter o clima e dá um tempo pra que se pense sobre o que vimos na tela. Como boa filha de cinéfilo (chegamos a ver ET, o extraterrestre seis vezes na tela grande) sempre amei este momento. A TV aberta considera perda de tempo, mas o DVD e a TV paga me mostraram que eu ainda podia ficar mais tempo abraçadinha ao final de um romance, manter o sorriso nas comédias, esticar as lágrimas nas histórias dramáticas ou reforçar as perguntas nos filmes alternativos. Meu marido, no entanto, nunca entendeu, desligava rapidamente o aparelho ao primeiro sinal de fim. Em nossas primeiras sessões juntos (quando ainda nos era permitido ficar) ele levantava correndo, escravo da pressa que nos levaria ao outro lado da rua. Hoje em dia, as crianças mostram a ele como este momento pode ser desfrutado. Elas aproveitam para dançar balé. Na tela nãoquase nada para se ver, as letras miúdas subindo no negrume, mas a música...a música tem o poder de nos fazer reviver a trama... Proponho um movimento a favor do depois, tanto no amor quanto no cinema. Os capitalistas nos tiraram o direito de amar os créditos. Findo o filme, um exército de funcionários uniformizados e adestrados nos expulsa do recinto. Depois de fazer amor é bom ficar abraçado, conversar, olhar no olho, dizer eu te amo e, talvez, começar de novo... Ouquem prefira sair correndo com as calças na mão?

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