Quem será que vai me comprar estas lentes que ousarão afogar as ondas do contemplar, esta aflição, quem vai comprar a borracha que há de apagar as palavras que me enchem as teclas e as folhas dos cadernos? Quem vai comprar as tesouras que vão cortar as carnes que seguram estes ossos graves e pouco ágeis? Quem vai comprar as toalhas, as inúmeras que hão de secar estas lágrimas, estas lancinantes lágrimas, este poetar imundo que não goza de técnica apurada ou sentimento maior, nada tão raro ou único? Quem vai comprar as facas que hão de dilacerar as pérfidas metáforas, comuns mas que se pensam raras e dignas de acordes violinescos, quem vai? Quem se habilita, quem vai comprar os dedos a calar as vozes que ainda me assaltam as cordas roucas e de baixo tom calão ou outras de parca valia? Quem vai comprar os convites para este espetáculo de silêncio e dor? Quem vai comprar as seringas que vão sugar este sangue que escorre lento e lânguido pelas ruínas do penar? QUEM?
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