domingo, 23 de março de 2014

PALCO E PLATEIA

A brincadeira virou objeto de estudo no trabalho e constatei, não sei se triste ou feliz, que fui uma criança-espectadora. Os colegas relatam contentes suas infâncias de pés descalços, subidas em árvores, elásticos e queimada nas calçadas até que os chamassem para se lavar e jantar. Eu não precisava que ninguém gritasse meu nome ou me botasse para dentro. Eu já estava lá. Lendo, imaginando, enfileirando as bonecas e dramatizando o meu estar-lá-fora. Eu não me aventurava. Era uma criança de “assistimentos”. Uma criança que imaginava, uma pré-adolescente que lia _às vezes mais de um romance por dia - e, na juventude, fazia-me de cupido para as amigas. Sempre espectadora,  escrava do medo que me aprisionava às letras. Lendo, eu poderia ser quem quer que fosse. Escrevendo também. Comprei a minha liberdade com o bilhete que me dava cadeira para assistir minha própria vida. Encenei. Hoje, quando falo em público, mal acredito que quem esteja lá seja mesmo eu. Subo no palco. Mas na plateia, ainda vejo, na última fila, a imagem de mim mesma. Sentada, assistindo, espectadora do meu próprio milagre.

sábado, 8 de março de 2014

Ser mais mulher...

Depois que os filhos chegam a gente percebe o quanto se gasta de tempo e dinheiro para se manter uma mulher com um mínimo de aparência: depilação, unha, tintura de cabelo, roupa, sapato, bolsa, maquiagem, perfumes, cosméticos, filtro solar... É muita coisa! Você poderia dizer que se eu fizesse tudo isso em casa economizaria bastante, certo? Errado. Depois de horas na cozinha, dar banho em criança, lavar louça, lavar roupa, trabalhar fora, fazer comida, arrumar mochila pra escola, não sobra disposição para se depilar ou fazer as unhas na madrugada. Às  vezes eu faço, quando não tenho que fazer algo do trabalho nesse horário, o que não é raro. Vendo cosméticos por catálogo para complementar a renda, o que medescontos ao comprar pra mim. Algumas vezes a linha tem cinco produtos para a pele e eu uso dois, pois estou morta e sem coragem. Tintura de cabelo é uma desgraça. No fim, não é o cabelo que está pintado, mas a casa toda. Sou um fiasco como cabeleireira de ocasião. Pra disfarçar vou arrancando os fios brancos, mas não adianta muito. Roupa também é um parto. Para comprar barato é preciso pesquisar e eu não gosto muito de andar em loja, prefiro comprar na internet. O problema é que penso muito (sempre fui muito comedida com dinheiro) e acabo não comprando nada. Ou seja, acabo mal vestida, mal depilada, grisalha e de unha lascada...  Estressada, ataco a geladeira e acrescento GORDA à lista. Ainda mais quando o marido resolve fazer bolo de chocolate ou pudim de leite... 2014 chega e com ele começo uma dieta, compro dois vestidos e vamos ver no que vai dar esta empreitada de ser um pouco mais MULHER...